O sonho de ser passista de samba pode ser mais comum para os brasileiros nascidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, as cidades que mostram ao mundo a paixão pela cultura da escola de samba. Mas, aqui na Bahia, o desejo de estudar e se dedicar a este gênero de dança está agora bem mais próximo, com o Projeto Samba Bahia.
A ideia de formar passistas, aglutinando-as em trabalhos, partiu da artista e professora Lívia Monteiro, que, ao retornar de dois anos de atuação no Japão, em 2019, lançou o projeto. A proposta ganhou, recentemente uma representação potente em vídeo, Meu samba, nosso samba, publicado no canal do Youtube.
“Em novembro de 2020, dei a louca”, conta Lívia. “Chamei Danilo Nolasco e Dani Daltron, que são meus amigos da dança, e falei com eles: ‘Vou fazer um clipe e vocês vão me ajudar!’. Eles ficaram loucos”, lembra. A dançarina explicou que a ideia era essa, mesmo sem saber como iria conseguir dinheiro para fazer. “Eles me chamavam de louca, que eu só faço tudo no susto. Do nada, quero fazer isso e ‘rumbora’ (kkk)”.

Enfim… foi mais um sonho que ela tirou da gaveta, com apoio de amigos e familiares. No dia 8 de dezembro estavam eles lá, no Centro Histórico de Salvador, filmando. O produtor musical, mais um amigo de Lívia, ajudou fazendo os arranjos musicais. Os irmãos dela fizeram o translado. O pai, a alimentação. Um amigo assumiu a fotografia. “Um colega indicou o rapaz da filmagem e o ballet era apenas as meninas que nunca trabalharam como passistas e estavam no projeto para ter esse pontapé inicial.
“Minha prima e mais duas amigas me ajudaram com o cabelo e maquiagem das meninas. Meus amigos do Olodum, Danilo, Taina e Dani, ficaram comigo em toda produção. Esse meu time me deu um grande apoio, um enorme suporte para tudo isso e muito mais que vem aí, acontecer”, narra.
Pé quente – Depois do lançamento do projeto, em 2019, em um aulão, Lívia foi convidada a ser professora na Academia Dan e tudo estava indo direitinho. No começo de 2020, seu trabalho chamou a atenção de uma dançarina com fama nacional. “Lore Improta foi chamada para ser madrinha de escola de samba, no Rio de Janeiro, e meu amigo Cássio Barreto, que é nosso amigo em comum, e também ajudou na realização do clipe, mencionou meu nome, falou do projeto… Daí a Lore pediu para passar o contato dela para mim”, lembra Lívia.
As duas marcaram um encontro para meados de janeiro. A agenda da loura era tão cheia, que só conseguiram se encontrar faltando uma semana para sua estreia na escola de samba Viradouro. A professora pensou: “Meu Deus, como é que ela vai conseguir desenvolver o samba, em apenas três ensaios?”. Foi corrido, mas, conforme conta Lívia, por Lore já saber dançar, facilitou bastante. “E posso te dizer que o projeto foi tão pé quente, que a rainha de bateria deu um show e a escola ganhou o primeiro lugar do carnaval de 2020”, vibra.

Resiliência – Passada a animação do carnaval, vieram as notícias sobre os primeiros contaminados com Corona Vírus, no país. Com a pandemia, Lívia buscou ser resiliente e começou a dar aulas online e a desenvolver lives. Seu trabalho agregador começou a despertar mais adesões. “As pessoas que hoje seguem o projeto é porque têm um sonho de trabalhar como passista ou porque admira o samba”, acredita Lívia.
O fato é que, a intensa programação de lives reuniu, nas redes sociais (@projetosambabahia), colegas de trabalho experientes. “Todas aceitaram, chegou a engarrafar (kkk), pois todas queriam dar seu depoimento. E ficaram muito felizes em contar experiências que, muitas ali, inclusive eu, não tiveram. Seria importante ter uma base, antes de sair do seu país. As lives foram um presente pra mim, para as participantes e, principalmente, para quem deseja entrar nesse mundo de samba show ou tinha curiosidade de saber mais. E com o sucesso das lives, fiz uma segunda edição, falando da transição de passista para dona de grupo”.
Ela destaca que entrevistou somente passistas de Salvador, para deixar bem claro que na Bahia também tem passista de pé no chão ou no salto 15. E proclama: “Vamos acabar com essa visão de que só tem passista no Rio, que em salvador só é capoeira. O samba surgiu na Bahia!”
Enfim, a dona da coisa toda diz que todas as participantes das lives, além de ficarem lisonjeadas pelo convite, pediram para Lívia não parar; que era para ela continuar firme e forte; falaram que quem está levando o samba da Bahia em relação ao samba de passista, dando aulas, tirando dúvidas e lutando pela nossa cultura atualmente, é ela, com este projeto. “E a mensagem das lives que eu quis passar foi justamente essa, por isso que surgiu o projeto Samba Bahia. Pra mostrar que nossa Bahia é rica e merece ser valorizada”.

Meu nome é Lívia Santana Monteiro. Tenho 34 anos, nascida em 15/11/1986. Sou a mais velha de mais 2 irmãos, a Sarah, de 13 anos, e o Thiago, de 27 anos. Meus pais Jacira e Aloisio são casados há 33 anos e hoje eles têm um restaurante chamado Thyliu’s, com iniciais dos nomes dos filhos. Sou professora desde meus 15 anos. Comecei realizando apresentações em escolas, onde ensaiava os alunos para as apresentações. Nesse tempo da adolescência, eu fazia cursos de dança na Funceb (sou formada em Educação Profissional de nível médio em dança), dava aulas em colégios e dançava em bandas de forró. Desde muito nova, recebia proposta para trabalhar no exterior, mas nunca fui, por medo; e, na época, não tinha a facilidade que o celular nos trás hoje. Com o passar dos anos, ainda fazendo ”minha segunda faculdade” e estagiando para Educação Física (antes, tentei vestibular para Dança, na Ufba, foi um preconceito, tanto, que acabei desistindo e tentando vestibular para Educação Física), com 26 anos, cursando o terceiro semestre, recebi novamente proposta. Aceitei. Tranquei faculdade e que se dane opiniões (“que lá fora é isso, é aquilo), fui logo indo contra o que mostrava a novela Salve Jorge, quebrando o tabu da prostituição. E ainda fui para o mesmo país da novela, Turquia, em 2013. Depois daí, não parei mais, fui me apaixonando cada vez mais pelo samba, pelos espetáculos, e admirada por nossa cultura ter uma valorização e tanto. Coisas que em nosso país não encontramos, começando por nós mesmos, que, na maioria das vezes, não damos oportunidades, pelo contrário, abraçamos a cultura de um outro país. =/ Triste realidade! Mas somos minorias que lutamos pelo que é nosso. Sim… e por toda experiência vivida, eu já tinha uma noção desde nova, vivendo a arte. Não tive dificuldade, pelo contrário, tinha curiosidade de saber mais e mais. O meu samba, ele é miscigenado. Digo isso, porque aprendi com carioca, paulista e mineira. Por viajar com companhias de dança, tinha essa mistura de Estados e foi muito enriquecedor. Sempre que assistia o Musa do Caldeirão, no Caldeirão do Huck, muito antes de viajar, eu falava: Um dia vou usar uma fantasia dessa, sambar assim e desfilar no Sambódromo. Participei de dois desfiles. Uso a fantasia, sambo que nem elas (kkk). Falta ainda o Sambódromo (que estou prestes a realizar)

0 comentário em “De olho”